05 dezembro 2007

As crianças

Hoje, recebi um email de uma campanha publicitária contra os maus tratos a crianças (transcrito abaixo neste post). Ouvi também um psicólogo comentar a decisão do tribunal no processo de entrega de uma criança de Vila Real à sua mãe biologica, depois de 6 anos com a família de acolhimento. Pus-me a pensar nas notícias dos ultímos dias. Tudo isto, levou-me a concluir que o mundo em que vivemos anda com as prioridades completamente baralhadas. Senão vejámos. Foi declarada uma crise mundial devido ao aumento do preço do petróleo; o mundo inteiro entrou em pánico devido à gripe das aves, no entanto, verificámos que aumenta assustadoramente a violência e os maus tratos sobre o bem mais importante da nossa sociedade - as crianças, e onde está o pánico? A crise declarada? parece-me que está tudo "impávido e sereno" e que esta calamidade é vista como apenas mais uma característica da nossa sociedade. Há dias que sinto vergonha do mundo em que vivo e hoje é um deles!

O meu nome é ""Sara""
Tenho 3 anos
Os meus olhos estão inchados,
Não consigo ver.
Eu devo ser estúpida,
Eu devo ser má,
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?
Eu gostaria de ser melhor,
Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.
Eu não posso falar,
Eu não posso fazer asneiras,
Senão fico trancada todo o dia.
Quando eu acordo estou sozinha,
A casa está escura,
Os meus pais não estão em casa.
Quando a minha mãe chega,
Eu tento ser amável,
Senão eu talvez levaria
Uma chicotada à noite.
Não faças barulho!
Acabo de ouvir um carro,
O meu pai chega do bar do Carlos.
Ouço-o dizer palavrões.
Ele chama-me.
Eu aperto-me contra o muro.
Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.
Tenho tanto medo agora,
Começo a chorar.
Ele encontra-me a chorar,
Ele atira-me com palavras más,
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.
Ele esbofeteia-me e bate-me,
E berra comigo ainda mais,
Eu liberto-me finalmente e corro até à porta.
Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola,
Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.
Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
E o meu dia continua com horríveis palavras...
"Eu lamento muito!", eu grito
Mas já é tarde de mais
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.
O mal e as feridas mais e mais,
"Meu Deus por favor, tenha piedade!
Faz com que isto acabe por favor!"
E finalmente ele pára, e vai para a porta,
Enquanto eu fico deitada,
Imóvel no chão.
O meu nome é "Sara"
Tenho 3 anos,
Esta noite o meu pai *matou-me*.

4 comentários:

david santos disse...

Olá, Valter!
Tens aqui um trabalho espectacular! Com muita profundidade. Mas, desculpa uma coisa: isto não é para homens como eu. Adoro o trabalho e penso ser uma grande chamada de atenção para todo ser humano mas, dada a minha fragilidade, eu não aguento. É um trabalho com muita categoria, mas muito pesado para homens com a lágrima ao canto do olho.
Muitos parabéns. Tem aqui um trabalho que todos, uns com mais, outros com menos coragem, que é o meu caso, deviam ler.
Abraços.

Vitor Mota disse...

Triste realidade especialmente quando se trata de violência contra aqueles que não se podem defender.

Um abraço
V.

Anónimo disse...

bonito isso aí, mas deixa eu falar p'ra voçê, esse poema não é seu não, está entre muitos sítios na web, mesmo até passou na TV, senão dá uma olhada lá:

http://www.portaljunior.com/forums.php?m=posts&q=813

quando for assim lhe acrescente (autor desconhecido)p'ra não ficar recebendo parabéns de todo o mundo, viu!

Hupernikon disse...

Anonimo, obrigado pela sua visita.
No meu post está bem claro que a mensagem foi retirada de um anuncio publicitário.
Parece-me incorrecto, alguém que nem sequer se identifica estar a fazer acusações sem ler sequer o que está a criticar.